09 de maio de 2012 • 12h15 - O que não é
sustentabilidade
A palavra sustentabilidade, por seu uso constante e descuidado, está
ficando muito desgastada. Agora todos são sustentáveis: empresas, organizações
sociais de todos os tipos, faculdades, hospitais, escolas e até times de
futebol. Vamos jogar um pouco de luz nesse debate tentando esclarecer o que não
é sustentável. Fazer negócios como sempre fizemos (business as usual) com
certeza não é sustentável. Não significa, de modo algum, afirmar que tudo que fizemos
até agora está errado; significa, sim, afirmar, que nem tudo que foi feito no
passado e que deu certo, continua válido hoje e para o futuro.Para que uma
atividade seja considerada sustentável ela deve atender três requisitos: ser
economicamente viável, ambientalmente equilibrada e socialmente justa. Vamos
analisar o pilar econômico, que é aquele que todos, supostamente,
compreendem.Se fizermos uma lista das dez principais incorporadoras do mercado
imobiliário da década atual e compararmos com a mesma lista de 20 anos atrás,
poucos serão os nomes que estão nas duas listas. Se estendermos o nosso período
de análise para 40 anos, que é um período muito curto quando se fala em
sustentabilidade econômica, é possível que essa lista se limite a uma ou duas empresas.
Sendo mais claro: a perenidade é uma consequência lógica do pilar
econômico da sustentabilidade, empresas que operam apenas olhando resultados de
curto prazo, não são sustentáveis sob o ponto de vista econômico, porque,
provavelmente, terão vida curta. E aqui vale uma reflexão: se a expectativa de
vida de um brasileiro ao nascer é de 73 anos, em média, não vejo razão para que
uma empresa tenha uma expectativa de vida menor, ao contrário, haja vista que
as empresas existem, ou melhor, deveriam existir para atender à sociedade,
deveriam viver, no mínimo, para atender várias gerações. Sendo um pouco mais
claro, acredito que uma empresa que não tem planos para se perenizar (operar
por centenas de anos), não pode ser chamada de sustentável. A sustentabilidade
leva à perenidade. A visão de curto prazo impede a sustentabilidade.
A preocupação com redução de custos sempre esteve na pauta de qualquer
gerente minimamente competente, portanto, afirmar que uma empresa é sustentável
porque tem um programa de ecoeficiência é, no mínimo, inadequado. O termo
ecoeficiência se popularizou recentemente, mas economizar nas contas de água e
energia elétrica, ou simplesmente não desperdiçar insumos e produtos, é apenas
boa gestão.Outra falácia é a que diz respeito ao cumprimento de leis e normas.
Esse cumprimento é obrigação de todas as empresas que operam na legalidade. É
verdade que cumprir esse mínimo não é uma prática universal, quando se examina
todo o conjunto das empresas que operam no setor da construção civil. O grau de
informalidade no nosso setor é muito significativo. Não temos dados precisos
para informar quantos metros quadrados de residências, escritórios e espaços
comerciais estão sendo construídos, ou reformados, este ano no nosso País, mas
posso afirmar, com pequena chance de errar, que mais da metade deve estar sendo
construída com algum grau de informalidade. Não há nenhuma sustentabilidade
nesse fato.Cumprir a legislação e as normas técnicas também sempre foi
obrigatório, portanto, fazê-lo não caracteriza uma ação sustentável. A
legislação que inova, impondo novos critérios que gerarão economias importantes
de insumos e materiais pode ser adjetivada como sustentável, mas a legislação
tradicional, que já esta estabelecida há muito tempo, não pode ser adjetivada
como tal. O nosso setor é conservador, e não há nada de intrinsicamente errado
nisso. O problema é que só conseguiremos avanços importantes na rota da
sustentabilidade por meio da inovação.
Concluindo este pequeno artigo,
quero destacar o seguinte conceito: melhorias contínuas em produtos e processos
são ótimas e muito bem vindas; economias de toda sorte são importantes, o bolso
e o planeta agradecem. Mas só rupturas importantes com a forma como fazemos
negócios hoje é que permitirão a construção de uma sociedade que seja realmente
sustentável para todos, ou seja, economicamente viável, ambientalmente
equilibrada e socialmente justa.
Aron Zylberman é assessor da presidência da Cyrela Brazil Realty e membro da
vice-presidência de Sustentabilidade do Secovi-SP
.http://noticias.terra.com.br/ciencia/sustentabilidade/o-que-nao-e-sustentabilidade,b0089790aa67b310VgnCLD200000bbcceb0
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